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GESTÃO DO ERRO:

Repensando a postura da liderança frente às falhas dos liderados



Exortar. Eis um termo que tem sido usado, na maioria das vezes, de forma equivocada. O erro semântico acontece em muitas palavras, que devido à recorrência passam a ter um sentido inapropriado, em vez do correto. Essa situação é muito ruim, pois a verdade do termo e sua aplicação adequada deixam de existir. O tema deste artigo “Gestão do erro: repensando a postura da liderança frente às falhas dos liderados” – baseado em 2Reis 6:1-7, onde veremos o comportamento de Eliseu, como líder, e dos filhos dos profetas, como discípulos ou liderados– passa pela expressão “exortar” em seu sentido original. Então, é preciso que entendamos o que ele significa, já que norteará por meio das atitudes de Eliseu, os nossos principais argumentos.

O termo “exortar” no grego é paraklesis. Dentre os diversos significados, destacamos os seguintes: convocação, aproximação (para ajuda); consolação; aquilo que proporciona conforto e descanso; discurso persuasivo, palestra estimulante.

E mais. O dicionário on-line nos explica a expressão “exortar” como “dar estímulo a; animar.”

Assim, percebemos que esses papéis são cabíveis a todo aquele que se propõe a liderar pessoas. Ou seja, exortar faz parte de sua conduta de proximidade, presença, estímulo, consolo...

No Novo Testamento, especificamente em uma revelação feita por Jesus, que liderou pessoas de forma magnífica, constatamos uma derivação de paraklesis quando o Filho de Deus diz: “E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador (parakletos), a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da Verdade, [...].” (João 14: 16-17 – grifo meu).

O termo parakletos significa “aquele que defende e protege alguém; mentor”. Ele é designado ao Espírito Santo, demonstrando sua principal característica: Consolador. E ainda, aquele que está junto. Diante disso, o discurso exortativo de um líder deve ter o poder de formar seus liderados conforme (ou na forma) do propósito determinado por Deus a estes discípulos. E é exatamente este sentido e este objetivo que Eliseu teve ao ensinar e discipular os filhos dos profetas. Vejamos:

E disseram os filhos dos profetas a Eliseu: Eis que o lugar em que habitamos diante da tua face, nos é estreito. Vamos, pois, até ao Jordão e tomemos de lá, cada um de nós, uma viga, e façamo-nos ali um lugar para habitar. E disse ele: Ide. E disse um: Serve-te de ires com os teus servos. E disse: Eu irei. E foi com eles; e, chegando eles ao Jordão, cortaram madeira. E sucedeu que, derrubando um deles uma viga, o ferro caiu na água; e clamou, e disse: Ai, meu senhor! ele era emprestado. E disse o homem de Deus: Onde caiu? E mostrando-lhe ele o lugar, cortou um pau, e o lançou ali, e fez flutuar o ferro. E disse: Levanta-o. Então ele estendeu a sua mão e o tomou. 2Reis 6: 1-7

Foram os problemas decorrentes das ações equivocadas dos aprendizes que fizeram com que Eliseu administrasse aquelas situações de forma brilhante, como um verdadeiro líder deve fazer. Não só o desempenho de Eliseu é corretíssimo, as próprias atitudes de seus alunos evidenciam que eles foram muito bem cuidados, acompanhados, ensinados, formados.

Vamos analisar a postura de Eliseu frente às falhas dos liderados e ainda o reflexo desta liderança no comportamento de seus discípulos.

Na passagem temos duas classes de pessoas: os filhos dos profetas e o mestre (Eliseu), que estabeleceu uma escola para formação de discípulos. Na escola de profetas vemos o corpo discente (mentores) e o corpo docente (os alunos). Cada um com seu papel muito claro, no qual a autoridade e a submissão, juntas, promovem a boa formação.

Analisemos cada ponto:

“E disseram os filhos dos profetas” (ou discípulos, na versão ARA) – Aqui fica claro que são os alunos que falam ao professor, mostrando que estão interagindo, respondendo aos estímulos provocados por Eliseu, o mestre. Eles receberam tantas instruções, conhecimentos, informações, sabedoria que começaram a sentir necessidade de colocar em prática o conteúdo que aprenderam dentro da sala de aula. Podemos ver que há uma relação saudável e respeitosa entre professor e alunos, mestre e discípulos. Essa relação apresenta uma abertura ao diálogo, já que não só o professor fala, mas os alunos também expressam seus pensamentos, demonstrando não apenas que têm voz, mas que são ouvidos.

Eles comunicam seus anseios ao dizer ao mestre: “Eis que o lugar em que nós habitamos é estreito”. Verbalizam, sem acanhamento, que aquela sala de aula já estava apertada, com pouca ventilação, pouca oxigenação, sem conforto e sem boas condições para continuar atendendo às necessidades daquele grupo que já havia se expandido intelectual e espiritualmente. Eles perceberam que as condições físicas e materiais daquele lugar precisavam acompanhar as evoluções que eles tiveram pessoalmente. Com Eliseu eles haviam aprendido sobre crescimento, aperfeiçoamento e a respeito de tantos temas importantes, que agora estava na hora deles mudarem de patamar. Então, eles não aceitariam mais a estreiteza, os limites próprios do início de uma jornada, aqueles que tinham quando estavam começando seu ministério. Os alunos de Eliseu sabem que eles são agentes de transformação, assim como o professor é na sala de aula, o pastor é na igreja, os pais são dentro de casa. Eles querem uma mudança, eles querem alargar suas tendas, literalmente. Querem ampliar os seus horizontes! Essas características são próprias daqueles que foram exortados e compreenderam a exortação de seu líder. Assim, estavam dispostos a avançar, ir além, expandir...

Isso fica claro quando eles dizem, no versículo 2: “Vamos, pois, até ao Jordão”. Na expressão “vamos” podemos observar uma iniciativa, e toda iniciativa é louvável quando ela visa algo melhor e o crescimento. “Vamos” é uma responsabilidade que pesa sobre a coletividade, sobre a comunidade. E eles se mostram dispostos a assumir esse papel conjunto. Mais adiante, eles dizem “tomemos cada um de nós”, demostrando, agora, a responsabilidade individual (que cada um teria dentro do propósito).

Aqui nós temos o grupo e temos o indivíduo. Havia, ao mesmo tempo, situações que demandavam ações coletivas e outras que deveriam ser pessoais. Cortar lenha e movimentar os troncos para poder ampliar o ambiente, o espaço físico, demandaria muito esforço. E isso precisava ser assumido pelo grupo, porque cortar lenha, usar o machado – ainda mais quando se trata de um amador, a chance de ter calos, de sangrar a mão, o esforço, a falta de tato para entender quando será preciso afiar o ferro – exigirão maior esforço dos inexperientes.

Mas também havia a ação individual e “cada um de nós” trata dessa responsabilidade.

Ir até ao Jordão, a princípio parecia caber apenas àqueles que propuseram tal empreitada. No entanto, não bastava apenas ir, havia uma tarefa a ser executada. Ao saber do anseio dos alunos, Eliseu dá a eles uma resposta estimulante, demonstrando confiança naqueles jovens. Ele responde: “ide”. Eliseu não era um líder centralizador. Embora fosse o professor, o mentor, ele não se gabava de ser o único capaz de ter uma boa ideia, de ter conhecimento e de ser apto a idealizar algo. Ele não pensou ‘Se eu não for nada vai acontecer’. A liderança de Eliseu fica clara quando os alunos lhe pedem autorização para fazer o que pretendem; o que é expressamente concedido pelo profeta. A resposta do mestre estava dentro do aspecto exortativo – de ânimo, de estímulo – que um líder deve expressar!

Ao identificar o problema, que era falta de espaço físico, os jovens lhe pediram consentimentos. Essa atitude mostra que os alunos são muito bem disciplinados, submissos e isso evidencia a liderança excepcional do profeta Eliseu. Ele sabe que, apesar de sua condição de mestre, as coisas não devem girar em torno de sua pessoa. Os alunos não estavam isentos de terem problemas sem a companhia do seu mestre, mas Eliseu os tinha formado com capacidade para buscar soluções. O que eles aprenderam era o legado deixado pelo mestre.

Mesmo com todo o desprendimento de Eliseu em deixar seus alunos avançarem sozinhos, no versículo 6, um jovem se atreve a pedir a presença do profeta na empreitada. Ele diz: “Serve-te de ires com teus servos”. Eliseu foi requerido por ser um líder participativo, uma liderança pessoal e presente. Vê-se a necessidade de tê-lo por perto. Talvez o aluno tenha conjecturado ‘Vai que acontece um incidente, um imprevisto, como é uma experiência nova para todos nós, um líder por perto nos daria um norte, uma orientação.’ Pensando nisso, alguém, ousadamente, pede a presença do mestre. O líder estava atento e disposto a continuar sua tarefa como mentor mesmo fora da sala de aula, por isso respondeu: “Eu irei”. Esta disposição faz parte do caráter exortativo que pressupõe a presença: o estar junto (João 14: 16).

A liderança profícua tanto pode liberar seus liderados para percorrerem o trajeto, sozinhos, como pode participar da expedição. Pode ser que Eliseu tenha desejado estar junto aos alunos naquele empreendimento por seu discernimento como profeta, por entender que ele seria necessário lá. O mestre precisa “antever” situações capazes de provocar prejuízos aos aprendizes, quer por sua experiência ou mesmo por seu discernimento espiritual. Assim, decidiu ir com o grupo. O ministério pastoral tem como uma de suas principais características o “fazer junto”. Eliseu sabia que a força mais poderosa é o exemplo e que a busca sozinha é um equivoco. Uma mão lava a outra e ambas lavam o rosto. Vemos isso no versículo 4: “chegando eles ao Jordão, cortaram madeira.” Não se trata de glamour, ou de ser paparicado, mas de colocar literalmente a mão na massa. O ministério pastoral é árduo. Eliseu precisou, ele mesmo, lidar com um machado, cortar árvores. Ser líder é ter, muitas vezes, um serviço braçal, penoso, sacrificial, oneroso. E ainda estar pronto para administrar, com sabedoria e maturidade, os erros de seus liderados, que surgem durante a execução dos trabalhos.

No versículo 5, vemos o erro de um dos alunos de Eliseu, com o qual ele teve de lidar: “E sucedeu que, derrubando um deles uma viga, o ferro caiu na água”. Essa situação deixa claro que Eliseu foi uma presença providencial naquele momento em que algo saiu do controle. Nessas horas, a experiência conta muito. Quando um dos discípulos estava com o machado na mão, ele não percebeu que o ferro começou a se deslocar milimetricamente do cabo, e que em breve iria perdê-lo. O ferro pode ser entendido como a capacidade, o dom, o talento, o poder, o potencial, a unção. Tratava-se de uma parte fundamental para a execução das tarefas ministeriais às quais eles se propuseram. É o machado completo, com o cabo e o ferro, que garantirá a execução da obra. Ficar só com o cabo na mão não vai fazê-los chegar a lugar algum. No entanto, aquele erro – a falta de atenção à sua ferramenta que era indispensável – não provocou conformismo no aluno nem a fúria em Eliseu. Infelizmente, muitos perdem seus talentos, dons e habilidades e, diante de um incidente, de um erro, acomodam-se, fazendo a obra de Deus só com o cabo do machado, vivendo na carne, na força do intelecto, tendo, por esta razão, um ministério irrelevante, medíocre. E ainda outros, desistem do seu chamado. O aluno de Eliseu não agiu assim. O profeta também não o defenestrou por seu erro. Esse apoio fez com que o jovem clamasse pela ajuda de seu mestre. O que foi crucial naquele momento! Liderar é quando colocamos coragem na alma das pessoas. Eliseu encorajou seu discípulo, fazendo com que a sua luz não parasse de brilhar! Há líderes que são apagadores de lâmpadas! Se alguém errar uma vez, já não serve mais! Eles agem exatamente ao contrário dos ensinamentos de Jesus Cristo:

Não contenderá nem gritará; nem se ouvirá nas ruas a sua voz. Não esmagará a cana rachada, nem apagará o pavio que fumega, até que faça vencer a justiça. Mateus 12: 19,20

Este ministério imperturbável e não insultuoso de Jesus está descrito por Mateus para ser consistente com a profecia messiânica (Isaías 42: 1-4). Jesus não espezinhou os fracos com intuitos de alcançar seus desígnios. Torcida que fumega. O pavio de um candeeiro cujo combustível se acabou, símbolo daqueles que são fracos e errantes.

Voltemos ao rapaz, discípulo de Eliseu; ele justifica a necessidade de salvar aquela ferramenta: “Ai! Meu senhor! Porque era emprestado”. Ela precisava voltar para a mão do seu dono. Nossos dons e talentos não são nossos. A gente os usa dizendo que são nos pertencem, mas isso é apenas uma força de expressão. Na verdade, eles são emprestados. O dono verdadeiro é Deus. Um dia, teremos que prestar contas a Ele por aquilo que confiou em nossas mãos. Havia essa consciência por parte daquele aprendiz. Como se diz: Quem toma conta, tem que dá conta!

Diante daquela preocupação, surge a atitude de uma liderança humanizada, que sabe o valor das relações pessoais. “E disse o homem de Deus: Onde caiu?” Seu questionamento não demostra um desespero, mas sim a mesma aflição do aluno, valorizando aquela preocupação, pois tinha razão de ser. Um “homem de Deus” não humilha seus liderados. Nem cresce em cima dos erros dos outros. Eliseu não humilhou o rapaz por seu erro perante o grupo, não deu um sermão em seu aprendiz, não puxou suas orelhas, não o expôs diante dos seus companheiros de classe. A liderança humanizada chama para si a responsabilidade, perguntando: “Onde caiu?” Ao receber a informação do rapaz, Eliseu “corta um pau” – não para bater na cabeça do jovem, como muitos líderes destemperados fariam. Aquilo serviria para que juntos eles testemunhassem algo sobrenatural! Como homem de Deus e como um líder excepcional, Eliseu sai do comum para ensinar que existem situações que precisam da intervenção divina. Ainda que pareça loucura! Assim, ele atira o pedaço de pau nas águas onde estava submerso o ferro do machado. Depois disso, de forma milagrosa, o ferro flutua, emerge do fundo das águas. Os dons, o talento que Deus nos entregou, ainda que por um tempo possam ter ficado submersos, quando nós buscamos a ajuda de Deus, reconhecendo que Ele é o Dono, retornam! Por isso Eliseu diz: “Levanta-o”. Então o rapaz estendeu a mão e o recuperou o ferro. O que o aluno não consegue, fica para o mestre; o que o aluno pode fazer, cabe a ele executar. Graças à parceria entre mestre e aluno, houve a solução do problema.

Uma liderança humanizada é aquela que entende “o que é preciso fazer para desenvolver as pessoas e trabalhar com um erro não previsto, de forma não punitiva”. Mesmo havendo planejamento, os erros podem ocorrer. A liderança deve estar ciente disso. Saber administrar os problemas de forma a não causar ainda mais danos, é o que mostrará se a liderança é humanizada ou animalesca!

A insensibilidade dos mestres coloca em xeque o futuro de seus alunos. Quantos submergem, como o ferro daquele machado, nas águas da incompreensão, da gritaria, dos xingamentos, do abuso de autoridade, da violência e dos assédios morais? Por conta de sermões, ignorância, humilhações, veem a sua dignidade agredida. O resultado é que muitos deles não voltam mais para a sala de aula. Eles desistem do seu chamado, do seu ministério. Muito mais pela culpa de um líder mal educado, grosseiro, emocionalmente desequilibrado..., do que propriamente por um erro, o que, aliás, todos podem cometer. O problema, como se diz, não é errar, mas permanecer no erro. Para isso que os mestres existem também, para corrigir rotas. É através dos dilemas e dos problemas que se percebem a importância da liderança.

Só os experientes não erram tanto, mas para se tornar uma pessoa experiente tem que errar muito. Quem hoje atua de forma muito emblemática, desenvolta, refinada, competente lá atrás vacilou, escorregou, cometeu equívocos, errou!

Existem vários exemplos, entre os grandes inventores, cientistas e empreendedores, em suas biografias, que apontam suas falhas, mostrando que o sucesso de hoje muitas vezes se deu por uma trilha de erros. O empresário norte-americano Walt Disney (1901-1966), por exemplo, passou por momentos difíceis. Sua empresa experimentou inúmeras crises e ele ficou desacreditado. Mas sua persistência e a correção dos erros o tornaram um dos maiores empreendedores do mundo. Sua ideia permanece até hoje, gerando empregos, lucros, fascinando e inspirando milhares de pessoas. Recentemente, como se sabe, a Ford tem enfrentado novas crises e desafios, mas nenhum embate financeiro é capaz de apagar o brilho histórico desta empresa automobilística. Assim, muitos outros grandes ícones, como o inventor norte-americano Thomas Alva Edison (1847-1931). Ele nem considerava os seus erros frequentes para conseguir criar a lâmpada elétrica com erros de fato. Alguém o perguntou quantas vezes ele teve que errar até, enfim, chegar ao resultado desejado. Ele respondeu: “Eu não falhei 10 mil vezes. Apenas encontrei 10 mil maneiras que não funcionam”. Edison demonstrava ter liberdade para criar, para errar, e para persistir até atingir os resultados desejados.

Deve fazer parte do caráter de um líder promover um ambiente de liberdade responsável, no qual os mentoreados possam: errar, perseverar e ter iniciativa. Isso demonstra confiança no potencial do aprendiz. Ou seja, é assim que ele começa a dar os primeiros passos para alçar novos patamares. O líder precisa desenvolver a autonomia de seus liderados! Era essa a condição que Eliseu estava proporcionando ao seu grupo. O profeta não deu ordem para que eles fossem ao Jordão. Foi iniciativa própria dos alunos, motivados pelas muitas lições recebidas de seu mestre, e uma delas é de que toda bênção é precedida de uma iniciativa (atitude).

A liberdade para a iniciativa também é um momento em que os erros aparecerão. Não se pode imaginar que todos estarão 100% prontos ao saírem da sala de aula. A prática à qual estarão submetidos revelará onde já estão acabados e onde devem ser modelados. Nesse sentido, a postura da liderança frente às falhas dos liderados deve ser a de usar essas falhas não como erros propriamente, mas como circunstâncias nas quais eles serão polidos, aperfeiçoados. Como pedras preciosas estes alunos deverão sofrer a ação do esmeril, que são os ensinamentos e as orientações de seus mentores. Muitos deles não se dão conta dessa parte e acabam engessando, traumatizando, prejudicando os futuros líderes. Claro que a crítica precisa ser feita, no entanto, ela deve ser inteligente, saudável, porque o que se deve atacar é o problema e não a pessoa. Há lideres que fazem o contrário: atacam a pessoa e agravam o problema. Lamentável! Expor um membro ou obreiro a situações constrangedoras frente aos demais colegas de ministério (por erros ou por não atingir metas) é pura covardia, é maldade/malignidade. No campo da saúde mental, tal atitude pode trazer sérios danos psíquicos, prejudicando a emoção, a atenção, a memória, o raciocínio, etc. Podendo também gerar insegurança, medo patológico, baixa autoestima e muitas outras disfunções emocionais. A gestão do erro não pode ser despótica, por injúria e intimidação. Há líderes que, infelizmente, manejam melhor o chicote que a carroça.

Um líder tem que ter sensibilidade e ser flexível no trato com as pessoas. Nem todos recebem a mesma orientação de forma igual. O que é entendido por um como apenas uma rispidez, ao outro será uma bronca ou grosseria inominável, capaz de travá-lo. Ser líder pressupõe o uso da inteligência emocional e de um bom relacionamento interpessoal. Podemos ver esses atributos em Eliseu. Se ele chamou a atenção daquele moço, possivelmente o fez nos bastidores. O filósofo brasileiro Mário Sérgio Cortella tem uma frase que ilustra bem isso: “Elogie em público e corrija em particular. Um sábio orienta sem ofender, e ensina sem humilhar.”. Tem muitos líderes que criticam publicamente e nem elogiam reservadamente. São apressados em criticar e em cobrar. Exercem uma liderança punitiva e nunca elogiam, “porque, na mente deturpada deles: se elogiar estraga”. Quer dizer: o erro das pessoas é escrachado, mas quando elas acertam não são reconhecidas ou valorizadas. Podem acertar mil vezes que, mesmo assim, serão esquecidas, porém, ao errar uma única vez, aquele erro será sempre lembrado. Alguns arrebentam com quem errou, pensando ser essa uma forma didática para que os demais não cometam erros. Com isso, criam uma mentalidade terrorista, em que não existe empatia, respeito, admiração ou ânimo para que os alunos sigam aprendendo. Quando exortam, o fazem da forma incorreta.

O mentor deve ter a capacidade de energizar os outros, de prezar pela sua saúde física e mental. Paulo sabia que Timóteo era uma pedra preciosa e precisava preservá-lo, ao invés de gastá-lo sem dó! Para o apóstolo, antes de ser líder o homem precisa ser um bom ser humano. Em 1Tessalonicenses 5: 14, ele diz que os desordeiros precisam ser admoestados, que os de pouco ânimo devem ser consolados, que os fracos necessitam ser sustentados e que cabem aos líderes serem pacientes para com todos. Admoestar, consolar, sustentar e pacientar, eis os quatro verbos principais da liderança pastoral de Paulo.

Eliseu também demonstra ter a capacidade de energizar os outros, de motivar, de levar as pessoas à construção, ao desenvolvimento, ao progresso, à criação. O rapaz, que não percebeu que o ferro estava se soltando e por isso cai no lago, não se conforma com aquilo, especialmente porque se tratava de uma ferramenta emprestada... O erro é coisa de gente corajosa, os covardes não ousam, eles não se metem em batalhas, não encaram desafios. Por isso, a iniciativa daquele jovem aprendiz foi valorizada. Ele estava ali voluntário. Ter saído da sala de aula já era por si só, uma atitude elogiável. Ter se unido ao grupo e aceitado o desafio de usar aquela ferramenta mesmo sem ter experiência, estando sujeito a cometer erros, demonstra sua desenvoltura, que não só fazia parte de seu caráter, mas que certamente foi estimulada pelo seu mestre. O pior erro é não aprender com ele. Quem se arrisca pode errar, mas quem hesita já errou. Um erro pode ser corrigido, a hesitação não. E não foi o caso daquele rapaz. O erro deve ser encarado como parte do progresso, como parte do aperfeiçoamento. Eu sou o que sou hoje, faço algumas coisas com dons refinados, porque lá atrás eu tropecei, caí, vacilei, mas decidi me levantar e, muitas vezes, encontrei uma mão pronta para me tirar do chão desconfortável do erro.

“O maior abismo na vida é aquele que fica entre o saber e o fazer”. Os filhos dos profetas demonstraram que não queriam ficar nesse limbo! Afinal, como escreveu o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.” Não ter a iniciativa de sair deste lugar ou não ser auxiliado a deixá-lo, pode se tornar em comodismo e, com o passar do tempo, frustração pelo potencial que nunca se tornou em realidade. Aqueles jovens receberam conteúdo, informação; aprenderam bastante dentro de sala de aula e agora queriam transformar o saber em fazer. Sair, com a supervisão de seu mestre. Errar. Ser corrigido. Todas essas atitudes se transformaram em uma ponte que deu acesso do saber ao fazer, da teoria à prática. Com isso, ganharam não só aqueles alunos, mas todo o corpo discente. Saber não é o bastante, ter vontade não é o suficiente; é preciso fazer. Eles acumularam saber, eles nutriam um grande interesse, uma vontade enorme de construir, de fazer algo para o progresso. Assim, arregaçaram as mangas, foram lá e fizeram o trabalho. Foram buscar lenha para construir um lugar mais amplo, mais arejado... Não só fisicamente, mas em suas próprias vidas.

Ao não entenderem o sentido da exortação, e usá-la de forma equivocada, muitos líderes acham-se no “direito” de dar broncas e humilhar seus liderados. Em vez de apascentá-los, eles os “apaucentam” com suas atitudes ríspidas e descabidas. Ou seja, por meio de gritos e humilhações sentam o pau em seus alunos (igreja). Isso pode não ser literal, no entanto deixam marcas que são capazes de comprometer o futuro destes aprendizes.

Uma liderança saudável e humanizada - seja ela do pai, do chefe ou do pastor é essencial na vida de um indivíduo, e, por fim, se reverbera em todo o grupo: em casa, na sociedade, na igreja. Eliseu fora um profeta e professor exemplar: formou verdadeiros discípulos que, no futuro, seriam capazes de perpetuar não só os ensinamentos de seu mestre, mas o comportamento brilhante com o qual conviveram e foram feitos homens de valor. Eliseu nos deixou um grande legado. E você, pastor, que tido de legado tem deixado nas pessoas e para as próximas gerações?

Nosso legado é o reflexo do que somos na vida!

ALEX DE MELLO CARDOSO

Pastor, Jornalista e Escritor Premiado.

Presidente da AD em Parque Esplanada - Embu das Artes-SP.



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